Um aposentado que vive em Porto Alegre decidiu realizar um sonho antigo para expandir o conhecimento acumulado ao longo de 85 anos de vida: ingressou no curso de direito da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Agrônomo, jornalista e professor, Luiz Alberto Ibarra agora se vê diante de um novo desafio. Entre o Código Penal e estudantes bem mais jovens, muitos com menos de um quarto de sua idade, o calouro Luiz Alberto tenta aprender aquilo que sempre desejou saber desde a década de 1940.
As aulas começaram no início do mês, no Centro da capital gaúcha. Já diplomado, ele apenas se inscreveu na faculdade, que o dispensou do vestibular. Como um “estranho no ninho”, Luiz Alberto foi chegando e sentiu a surpresa dos colegas ao ver um aluno de idade avançada participando na sala de aula como se fosse um adolescente, cheio de energia, disposto a encarar os 10 semestres da graduação.
“No início eles ficaram surpreendidos pela chegada daquele cidadão de tanta idade. Tem muitos jovens de 17 anos, vários mesmo. Mas também entre eles tem uns mais maduros, de 40, 45, até 60 anos”, relata o aposentado.
Nos primeiros dias, um estudante de 17 anos sentou-se ao lado de Luiz Alberto e puxou conversa. Queria saber sua idade, de onde vinha o motivo de estar ali. “Ele chegou com um skate na mão e eu não poderia perder a brincadeira para quebrar o gelo. Pedi para ele me emprestar o skate. Disse que queria descer a escadaria, que mostraria a ele como se faz. Ele se assustou um pouco e acabei dizendo que não era para me levar tão a sério”, brinca.
Luiz Alberto nasceu em Uruguaiana, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Aos 15 anos, se mudou para Porto Alegre para estudar. O sonho de fazer direito vem desde aquela época, quando morava na casa de estudantes. No entanto, no fim da década de 1940, encontrou o início do movimento tradicionalista gaúcho, se aproximou de Paixão Côrtes, que cursava agronomia, e decidiu enveredar para o mesmo lado.
“O direito é um sonho antigo e que foi se renovar agora, né? Sempre gostei. Morava com estudantes de direito e tinha muito interesse pela profissão. Mas na mesma época nasceu o CTG 35 (Centro de Tradições Gaúchas). Tomei gosto pelo movimento e me integrei a eles, inclusive conheci o Paixão (Côrtes). Ele fazia agronomia. Fui incentivado e acabei tomando esse rumo na vida”, recorda.
Casado há quase 60 anos, Luiz Alberto tem quatro filhos e três netos. Família que incentivou, e muito, o reencontro com o direito. “Ah, o pessoal de casa me deu muita força. O importante agora é o conhecimento, né? São coisas novas que vou aprender. Depois eu penso no que vou fazer com o diploma. Agora ainda é muito cedo”, diz o aposentado, que tem formatura prevista para quando completar 90 anos de idade.
Emocionada, a neta Rafaela Ibarra comemorou junto com a família a atitude do avô. “Foi decisão dele. A gente sempre os incentiva para fazer algo diferente. Até para saúde, né? Mas não imaginávamos uma graduação”, disse ao G1. Em sua página pessoal no Facebook, Rafaela também deixou uma mensagem para compartilhar a emoção do momento e incentivar novos - ou velhos - “calouros”.
“Não caibo em mim de tanto orgulho e emoção! Hoje, aos 85 anos de idade, inicia-se uma nova fase na vida de meu 'abuelito'! Luiz Alberto Ibarra, Bebeto, agrônomo, professor, agora, mais uma vez, aluno. Hoje, provavelmente o calouro mais “maduro” do curso de direito da Fadergs (...) Meu exemplo de superação! Façamos sempre o que nos faz feliz, independentemente da idade ou das dificuldades, nunca é tarde para correr atrás dos nossos sonhos”, escreveu a neta.
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Fonte: G1
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